segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Diário de bordo: Elis - a musical

Da menina muda de vergonha no clube do Guri à maior cantora brasileira, num programa de TV, desabafando com o Brasil inteiro sobre a dor e a delícia da sua vida e da sua arte. 

Em pouco mais de duas horas de ESPETÁCULO (puta espetáculo, com o perdão da palavra), o musical é fiel ao gênero ao mesclar constantemente cenas puramente teatrais com cenas teatro-musicais, se é que esse termo existe, e que não poderiam cair tão bem, afinal o que foi Elis Regina se não um musical de 36 anos, o mais intenso e único de que se tem notícia por aqui, a ponto de perdurar na memória nacional e internacional (não sejamos modestos) por mais 30 anos e quantos mais quiserem vir? "A música é meu arco, minha flecha, meu motor, meu combustível e minha solidão". 

Fiel ao gênero, e principalmente fiel à víscera da pimentinha, ao camicase que ela dizia ser e era, que é. É difícil tirar os olhos do palco, difícil até parar pra comentar com a pessoa do lado, difícil não se levar a anos atrás, pensar nela, a própria, num palco à sua frente, nadando em música, é uma experiência indescritível, como deve ser indescritível a experiência de quem realmente pôde vê-la pessoalmente.

Sobre o elenco: um elenco sintético de grandes atores, cantores e bailarinos que se revezam nos papéis. Alguns personagens, como por exemplo Paulo Francis e Marília Gabriela são um tanto caricatos, mas ornam com humor a peça e permitem que o público os reconheça de imediato. A sintonia entre o elenco é coisa que beira sintonia familiar.

Sobre o cenário: também sintético e genial, as montagens de cenário são feitas pelos próprios atores, e introduzem os números musicais, como quem realmente arruma o bar pra esperar os clientes ou prepara o palco pra cantora entrar, sem contar os painéis móveis que descem do teto pra comunicar que estamos na casa da Elis ou num quarto de hotel ou em frente ao público no festival que emplacou 'Arrastão'. Ah, os jogos e painéis de luz, santa iluminação! Na minha humilde opinião de arquiteta, em se tratando de ambientação, iluminação é tudo e tenho dito.


Sobre Laila Garin: sem sombra de dúvida uma excelente cantora, não cambaleou em nenhuma faixa e estamos falando do repertório de Elis Regina, o canto também encenado conseguiu sim trazer a lembrança à mente. 
Sem sombra de dúvida uma excelente cantora e sem sombra DE SOMBRA de dúvida uma atriz EXCEPCIONAL. A gesticulação, a risadinha abafada, o andado, a fala (meu Deus, a fala!), por muitos momentos dá pra fechar os olhos e ouvir Elis falando, é nítido o estudo incansável, o mergulho na vida e obra da homenageada, a admiração pela Elis em cada cena, em cada olhar, em cada gesto e acima de tudo o orgulho em poder homenageá-la. Laila se veste inteira de Elis Regina e eu não estou falando só de figurino, falo da alegria, da víscera, da explosão, da entrega, da paixão absurda pela arte, pelo Brasil, pela música. Guardem esse nome, Laila Garin, guardem e confiem.

Foto do material de divulgação do musical.


Sobre mim: se tivesse passado rímel tinha virado um panda, as lágrimas chegaram ao pescoço. Eu assistiria a esse espetáculo por mais dez  vezes tranquilamente (assisti no sábado, não resisti e voltei no domingo, de novo panda, de novo lágrimas no pescoço, de novo dor de cabeça de tanto chorar). É um abraço de duas horas nessa nossa pimentinha tão fundamental, tão indispensável, é uma injeção de vontade de mergulhar ainda mais na obra dela, é alegria e alívio em saber que existe e, Deus queira, sempre vai existir gente disposta e capaz de, através dessas homenagens e lembranças, fazer perdurar o maior desejo da maior cantora do Brasil: "...quero usar o dom que a mãe natureza me deu pra diminuir a angústia de alguém. Essa ideia é que pode dar sentido ao meu trabalho".

Eu recomendo!

3 comentários:

  1. Eu também estou apaixonada pelo espetáculo! Só uma correção: é Paulo Francis, e não Francis Hime, que aparece em cena.

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    1. Opa, troquei os nomes, já reparei o erro, obrigada pela correção.

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  2. Achei que demoraria mais tempo, já tinha visto um vídeo da seleção da atriz que interpretaria Elis. Tomara que venha à Fortaleza. E obrigado pelas informações.

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